Projeto Ademar Guerra proporciona um final de semana movido à arte
Pelo atraso na data o texto pode até parecer fora de contexto, mas a sensação de um final de semana movido a arte acredito que seja atemporal. O sentimento é singular e falar sobre ele não pode ter data ou hora marcadas. Foi um final de semana intenso. Os dias 5 e 6 de novembro – sábado e domingo – ficaram marcados na agenda dos apaixonados pelo teatro. O Projeto Ademar Guerra trouxe para Garça uma movimentação teatral importante e poucas vezes vista. Em meio a grupos teatrais das cidades participantes e orientadores artísticos também estiveram presentes o Curador Artístico do Projeto Ademar Guerra, Sérgio Ferrara, o Coordenador Geral Aldo Valentin e o Consultor Expedito Araújo. Pessoas cuja trajetória teatral faz história. No sábado e no domingo, ora na Sala Miguel Mônico, ora no Espaço Cenografia, aconteceram às apresentações dos trabalhos para um seleto público. Não vi em cena nenhum global, ninguém que tenha vindo do famoso eixo Rio - São Paulo, ninguém que provocasse o alvoroço para os abraços, autógrafos e poses para os flashes. Vi amantes da arte. Vi e pude aplaudir pessoas que nadam contra a maré e que ainda buscam o ponto G cultural. Que procuram sempre fazer um belo espetáculo. Foram ensaios, espetáculos, conversas, oficinas, orientações. Foi aprendizado. Fui apresentada a Jean Genet e Lacan (Jacques-Marie-Émile Lacan); revi Nelson Rodrigues e passei um pouco mais por Machado de Assis. Ali, na Sala Miguel Mônico conheci, por um ângulo diferente, um pouco mais da história do homem da SP - 294. Não há como ignorar Plínio Marcos, mas também foi impossível não se sensibilizar com o santo e o profano de cada um. O Projeto Ademar Guerra permitiu ao bancário Cido mostrar o ator que existe nele e juntamente com Ivo e Bruna fizeram uma mostra de sensibilidades em “Os Olhos de Madame”. Além das apresentações que deliciaram os presentes, as oficinas realizadas fizeram um diferencial. Trouxeram para o universo do teatro, leigos e mostraram que não há muita distância entre os dois mundos. Segundo a orientadora artística Viviane Dias, que ministrou a oficina “Tropeçando em poesia – um exercício de olhar sobre o cotidiano”, apareceram várias pessoas interessadas em participarem do projeto e o mais interessante é que elas não tinham contato com o teatro. “Foi bom o trabalho, os participantes da oficina sentiram o caráter da auto descoberta, da percepção”, falou Viviane que em sua trajetória construiu um currículo onde se vê que ela, entre outros desempenhos, é atriz, dramaturga, jornalista e arte-educadora. Viviane Dias viajou pelo mundo com sua arte, e segundo ela, ao contrário do que muitos imaginam, esta diz respeito a todos. “Arte diz respeito a você sim. Você utiliza no seu dia a dia, no seu cotidiano. É um descobrimento, uma percepção”, salientou ela. Na outra oficina ministrada “Estudos Práticos sobre a Ação Física”, foi Roger Muniz quem comandou o workshop, com um trabalho que propôs compartilhar procedimentos de criação cênica baseada no “sistema” das ações físicas de K. Stanislávski, incentivando o trabalho coletivo – elemento fundamental para o jogo cênico. A oficina aconteceu de maneira prática visando contribuir para a expressividade do jovem intérprete das artes cênicas através do fornecimento de instrumentos que contribuam para a criação e a consciência de alguns elementos que constituem uma cena teatral. Viviane Dias, assim como Heitor Julio Barboza Saraiva, Roger Muniz, Edmilson Cordeiro, Leonardo Antunes e Mauro Junior, pertencem a equipe do Projeto Ademar Guerra e fizeram a orientação artística dos grupos que se apresentaram. Como frisou o Curador Sérgio Ferrara, esses profissionais atuaram junto aos grupos selecionados acompanhando seus projetos de pesquisa e montagem de espetáculos, buscando um trabalho partilhado, discutido e nunca imposto. “O lema deste ano foi artista orientando artista”, falou ele. A cada semana, disse Viviane, estamos com a mostra em um lugar. “Este final de semana foi em Garça, depois será em Araraquara, depois Araçatuba e Presidente Prudente. No trabalho de orientação saímos de São Paulo e nos deslocamos até as cidades para, juntos com os grupos discutirmos o desenvolvimento das peças”, completou ela. É importante frisar que as mostras regionais, como salientou Ferrara, têm como objetivo promover o processo de compartilhamento dos grupos, promovendo e valorizando o diálogo dos artistas, suas referências, a comunidade e suas características particulares desde o espaço físico até a possibilidade de repertório dos grupos como protagonistas de suas ideias e projetos culturais artísticos. De acordo com o curador artístico, “a valorização da pesquisa que no processo de construção da obra gera para o grupo a dinamicidade de conteúdos práticos, que transcorrem á margem da memória, dos registros de percepção e da pluralidade individual de cada grupo voltado para a base da curadoria artística dessa gestão cujo tema é: artista orientando artista com intuito de se traçar escolhas e encontros no universo de uma obra em processo.” Equipe traz um feedback para os grupos Sérgio Ferrara, Aldo Valentim e Expedito Araújo assistiram a todas as apresentações e após a exibição de cada grupo passaram orientações daquilo que foi percebido. Em meio a elogios, também se fez necessário apontar pontos que mereciam mudanças. Não foram críticas. Foi, como disse o integrante Grupo ELAM de Teatro (Marília), o feedback para o aprimoramento dos trabalhos. Algumas das discussões contou com a participação do público, outras se limitou aos grupos e equipe do Projeto Ademar Guerra. “É muito importante que tenhamos esse retorno, para que saibamos o que esta certo e onde precisamos melhorar”, falou o ator que atuou na peça Dom Casmurro. Para Aldo Valentim, a qualidade dos trabalhos apresentados superou as expectativas. “Nós estamos assistindo a todos os espetáculos e fazendo as leituras. A gente assiste com atenção e acima de tudo com respeito. Para mim está sendo uma surpresa muito gostosa”, disse Sérgio Ferrara após uma das apresentações do domingo. De acordo com o curador, vendo o desenvolvimento das equipes ele percebeu também a importância de trazer para o projeto, no trabalho das orientações, pessoas ligadas a cenografia, dramaturgia, utilização de espaço cênico. “Estamos percebendo a importância de ter essa equipe junto. É importante frisar que o trabalho apresentado pelos grupos tem caráter de compartilhamento e não de competição. Estamos crescendo e buscando melhorar. Isto é importante”, frisou ele. Em meio as suas leituras, Ferrara discutiu com os grupos e citou um pensamento de Ariano Suassuna (escritor e dramaturgo): “Não existe ator bom ou ruim. Existe ator vivo ou morto”. E os que estavam ali, estavam vivos. Na divulgação do projeto o coordenador Aldo Valentim já havia dito que “é relevante ver os jovens protagonizando uma ação importante na cidade que colaborará para o desenvolvimento cultural da cidade, são ações focadas no protagonismo dos artistas e no reforço da sua importância como agentes culturais locais que buscamos afirmar quando apoiamos uma ação como esta”. E em meio a tudo, o seleto grupo que teve o prazer de assistir aos ensaios e espetáculos, também pode discutir com os artistas, saber um pouco da história dos grupos, da montagem das peças, da história apresentada. Uma divisão de conhecimentos que fez do público também ator. Nos tornamos parte do Projeto Ademar Guerra.
Foi um final de semana repleto de atividades
Aldo Valentim, Sérgio Ferrara e Expedito Araújo
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