quarta-feira, 23 de novembro de 2011

“Navalha na Carne”

“Navalha na Carne”
Grupo Elementos Anônimos de Angatuba

A classificação de 18 anos não impediu menores de assistirem o espetáculo, o que foi bom. A linguagem crua de Plínio Marcos pode criar mais resistência no adulto (muitos carregam um falso moralismo) ao adolescente ou jovem que abertos para o mundo, experimentam de tudo com naturalidade. Não vi nos olhos do pequeno escoteiro (lobinho) uma rejeição ao que via. A expressão de seu rosto mostrou sim, sentir a violência imputada, o que me fez perceber que o grupo em cena, mais que representar, trazia para o tablado da Sala Miguel Mônico, a cópia de um grupo que a sociedade insiste em mantê-lo no paralelo. Tão essenciais, tão humanos, tão pessoas. O mundo de Plínio Marcos, ou melhor, o mundo que Plínio Marcos mostrou que existia. Vimos ali a história de três personagens num quarto de bordel. Da prostituta Neusa Sueli, do gigolô Vado e do homossexual Veludo. Vimos a história da marginalidade. Os atores foram intensos em cena e o choque que não vi no pequeno escoteiro, na adolescente sentada ao meu lado, senti. Nâo sei se foram as porradas que doeram, ou me conscientizar que aquilo acontece de forma rotineira, cruel e real. Vi muitas Neusas, Vados e Veludos. E o grupo, que levou o público para o palco da Sala Miguel Mônico, nos fez, de certa forma, sermos participantes direto da história. Éramos, ou fomos, ou somos, expectadores da miséria humana. Assistimos, sentimos, vemos, nada fazemos, e no final aplaudimos. E no território da pizza, comemos pão com mortadela. Será que vão mudar o final neste lindo país tropical? O pão com mortadela que mata a fome de pão em meio ao circo. Na sinopse o público fica sabendo que a peça mostra a relação conflituosa entre uma prostituta, seu cafetão e um homossexual que faz a faxina na pensão onde todos vivem. Além de descortinar o submundo da prostituição, o grande mérito de Plínio Marcos é desnudar as pessoas: sejam burgueses ou cafajestes, todos se deixam guiar pelos instintos mais primitivos de sobrevivência. A proposta do grupo é, entre outras, a de aproximar a plateia desse submundo, fazendo-a sentir-se parte dele. E antes de ler a sinopse, para não me deixar contaminar, eu me senti parte do espetáculo. Eu, e aquele seleto público, estreamos no palco da Sala Miguel Mônico. Dividimos um quarto naquele bordel. Sem pensar na prosódia, na discussão pós apresentação e na eloquência do grupo e do orientador Heitor Saraiva, vimos mais uma face da arte. O ator, que para não se deixar contaminar deixou de assistir TV. Acho que isso daria um belo espetáculo.
















































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