Na terra do café, onde as flores brancas cobrem os cafezais à espera de uma rápida chuva para florescer com toda força, no último dia 12 de setembro a Sala Miguel Mônico recebeu o espetáculo La Bohéme. Mais uma vez, a segunda na história do teatro garcense, a ópera veio para contar uma história de amor. Não houve preocupação sobre quem era tenor, soprano ou barítono. Pra que saber disso se as notas cantadas trouxeram encantamento para o público presente. Falaram de amor. Contaram sua história.
Mais uma vez senti falta de Leterio Santoro e, em
meio a rostos que vão ficando conhecidos, as pessoas foram chegando. Fátima
Marino estava presente.
As batidas do relógio puderam ser ouvidas e Paris
mudou-se para o palco da Sala Miguel Mônico. Os pintores, os músicos, os
escritores. A arte retratando a arte e mostrando a realidade. As armadilhas para
fugir da cobrança de um aluguel. A pobreza em meio à arte e o amor.
Mimi. Musetta. Rodolfo. Marcello. O senhorio. Os
músicos. O garçom. Os quadros. A vida. A arte. Tudo junto e misturado. Tudo
costurado pelo amor, pela música e pela sedução.
E como disse Mimi, gosto das coisas que tem essa
magia, coisas que chamam de poesia. E foi poesia que os presentes viram.
Tiveram. Saborearam. No palco os cenários iam mudando e conduzindo o público na
história. Hora um quarto. Hora uma praça. Hora uma pobre pensão.
Todos foram transportados para Paris,
aproveitaram o sol parisiense, sentiram o frio e procuraram refúgio nos cafés. E
estes, como disse Marcello, servem para amarmos ou termos a impressão de
estarmos sendo amados.
E no bar o amor já nasce ébrio. Nasceu o amor por
Musetta.
E enquanto o público torcia pelo “amor de idas e
vindas entre Mimi e Rodolfo”, também viajava pelas ruas da cidade luz, que ainda
usava a claridade das velas. A cidade que proporcionava uma surpresa a cada
esquina.
Veio o ciúme, as brigas, as mazelas do amor.
Musetta e Marcello. Mimi e Rodolfo. Maria e João. Um na paz e outro na guerra.
Ali, em meio à boemia, a pobreza e a dor, a vida foi perdendo espaço.
La Bohéme mostrou através da ópera, dos cantos e
da representação, a força do perdão. A magia do reencontro e a tristeza da
perda. La Bohéme mostrou que perdemos tempo demais com coisas que não fazem
sentido. Por brigas, desilusões, frustrações e desamores, voltamos, como Mimi, a
tecer flores falsas, quando poderíamos cultivar muitos jardins.
E a vida perdeu espaço para a morte. Mas a arte
em Garça parece estar conquistando seu território.
LA BOHÉME
Esta foi a segunda vez que a companhia Ópera Curta esteve em Garça. A primeira vez foi em 2011 com o espetáculo Carmem. De acordo com representante do grupo, o objetivo é difundir o gênero acrescentando leitura teatral, criando novas visões e introduzindo o gênero ópera. Além da apresentação o grupo também teve uma “conversa” com alunos da EMCA – Teatro, Balé, Projeto Guri -. Ficou as desculpas antecipadas para aqueles que, no final da apresentação, ficassem insatisfeitos. Ficou o pedido para os aplausos e assobios entre os que gostassem. Ficou o barulho do relógio. Ficou a arte e cada aplauso foi bem merecido. E o público aplaudiu de pé. Relacionar obras épicas com o pensamento contemporâneo. É desta forma que a Companhia de Ópera Curta promove peças de teatro musical baseadas em óperas famosas, fazendo com que o público compreenda o contexto e o pensamento do autor correlacionando-os aos tempos atuais.
Ópera Curta é um tipo de espetáculo de teatro musical criado por Cleber Papa e Rosana Caramaschi, sob a direção musical do maestro Luís Gustavo Petri, baseado em óperas famosas, na literatura que lhes deu origem, no contexto histórico e sua relação com o pensamento contemporâneo. A Ópera Curta possui uma dramaturgia própria que inclui de partes consideradas imprescindíveis das óperas convencionais à criação de novos personagens que possam contar a história base do espetáculo original
“Em La Bohème – a ópera contada e cantada, fizemos uma transposição da música para um conjunto de câmara composto de piano, violino, violoncelo e flauta” – afirma o maestro Luís Gustavo Petri, diretor musical do espetáculo. “Desta maneira, preservamos a música original de Puccini para orquestra de grande porte, traduzindo-a para uma formação de quatro músicos. As principais árias e duetos da ópera estão mantidos no espetáculo, permitindo uma compreensão bastante precisa por parte do público leigo e oferecendo um resultado de alto padrão para aqueles que já conhecem o gênero e até a própria ópera”.
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