A
correria tem me impedido de trazer, para o papel, um pouco do muito que senti.
Já se passaram muitos dias, e muitos méis se formaram no abelheiros. Também se
passaram muitos féis nos apiários da vida, desde o 10 de outubro, quando no
aconchego da Sala Miguel Mônico assisti ao espetáculo infantil “Pânico na
Colmeia”.
Cheguei atrasada, não para o espetáculo, mas tarde para ocupar os primeiros lugares. Debutei nas fileiras do meio e, cada poltrona foi sendo ocupada pela “patrulha”, da Educação. As mestres, em meio ao burburinho, tentavam por ordem nas “cigarras”, antes que as cortinas se abrissem. A música que ecoou no ambiente teve acompanhamento das palmas e o pequenino ao meu lado, depois de me cumprimentar, não quis levar o diálogo adiante, me frustrando, já que o falar, antes da apresentação, me apraz . Ao lhe perguntar onde estudava, ele ficou pensativo......, reticente, até proferir a resposta:
- “Num lugar bem, mas bem longe daqui”. Falou e se virou para o outro lado, encerrando a conversa e, para que não houvesse a possibilidade de retomá-la, mudou-se de lugar, ficando longe, bem longe de mim.
Tentei assim, com outra integrante da patrulha que me olhava como algo anormal (o que eu estava fazendo ali em meio a criançada?. Juro que li essa pergunta nos olhos dela). Afinal eu não era amiguinha e, também, não era “Pro”.
Você estuda onde? Perguntei tentando iniciar o bate papo, constituir um elo.
-“Na escola”, respondeu ela, virando-se e encerrando a conversa que mal tinha começado.
Voltei para meu posto de observação e desisti de estabelecer conversas, amigáveis ou não.
E quando dei por encerrada as tentativas de conversas, a pequena voltou a falar comigo. Estava incomodada porque as luzes tinham se apagado e “nada acontecia”. Foi quando soube seu nome e o da amiga. Maria Júlia, Melissa e eu aguardávamos o abrir das cortinas e, eu ganhei importância. Os olhinhos marcados pela curiosidade brilhavam enquanto os ouvidos, atentos, escutavam a explicação de todo o processo.
E a magia foi se acentuando, já que tudo começa quando nos dispomos a assistir ao espetáculo.
Deixei de olhar às crianças para, como elas, voltar meus olhos para o palco.
Os assuntos de adultos foram tratados com clareza e bem compreendidos pelas crianças. Assim Pânico na Colmeia, em meio a risos e graça, falou sobre o derrubar das árvores e seus efeitos. Falou sobre o domínio das pastagens, o domínio do capital. O interesse, a ganância, a irracionalidade. Falou das flores e dos pólens. Da gula de um, da fome do outro.
Foi com riso, com graça (seria trágico, se não fosse cômico) que Pânico na Colmeia foi se desvendando e encantando. Trazendo riso, participação, preocupação e descontração.
A Rainha, o Zangão e a Operária. A sociedade. A luta pela sobrevivência, a força do trabalho operário, a importância de cada um na cadeia produtiva.
E a operária, ora rindo, ora chutando, mostrou também a luta travada pelo conhecimento e pela consciência. O saber sobre si e sobre o outro, ainda que, nem sempre a mudança esteja ao seu alcance. A importância de saber o seu eu, mesmo diante dos muitos zangões que enfrentamos na vida.
Pânico na Colmeia, o mini cosmo da sociedade, mostrou aqueles que, além de não saberem de si, desmerecem o outro, e ,no dessaber, sonham sonhos impossíveis. Não são poucos os zangões, que encontramos pelo caminho, que se tornam reis (sem licença poética). Não são poucos os que, sendo ou não, reis/rainhas, nada fazem e se afogam na crença de seus egos. Se acham mártires, se sentem indispensáveis .
O público infantil entendeu, com graça e leveza, a mensagem de Pânico na Colmeia, e essa é uma das magias que o teatro tem. No meio do riso farto, ou de uma lágrima perdida na face, ele é mais que uma opção de cultura e lazer. É base para reflexão, para o entendimento de si, do outro e do mundo. E Pânico na Colmeia , uma peça infantil que eu, em minha insignificância diria que muitos adolescentes precisam assistir, cumpriu seu papel.
Mas, voltando a questão da magia, à permissão poética, Pânico da Colmeia lembrou que quando todos trabalham juntos, e assumem o risco, tudo pode mudar. Assim ela trouxe o “felizes para sempre”, pois nem todo Zangão precisa morrer.
Afinal, como já disse Lulu Santos “Tudo que se vê não é, Igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo”
E foi possível ver a transformação. As cigarrinhas saíram cheias de saber e prontas para a metamorfose completa (pedindo licença poética). Elas podem fazer a mudança. A semente foi plantada e, até que os frutos comecem a ser colhidos, houve o momento descontração.
A equipe da R. Margarida Produção saiu do palco, mas não saiu de cena. Em meio aos abraços, os momentos entre abelhas e cigarras ficaram registrados. Uns pelos flashes dos celulares e câmeras fotográficas. Outros pela magia que o teatro proporciona. Não dá para explicar.
Assim o Teatro cumpriu seu papel e a R. Margarida Produção com a Companhia Garimpa Risos cumpriram a missão. A peça Pânico na Colmeia teve o patrocínio da Eixo Concessionária de Rodovias, através da Lei de Incentivo à Cultura ROUANET, Ministério da Cultura, do Governo Federal.
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